Certa feita meditando a respeito da natureza humana, entranhei-me em um mundo tão empolgante e interessante quanto ao próprio eu humano, um indizível bloco de sem fim e repleto de estranhas provocações. Palavra interessante, estranhamente simples e capaz de mudar o humano que com ela se depara, provocação, enquanto verbo é infinito em significados e substantivo é factual e momentâneo.
Somos provocados a todo instante, ora por nós mesmos, ora pelo mundo que nos rodeia, cada estímulo, cada resposta que adquirimos ou damos, faz-nos entender um pouco mais no que estamos inseridos e nos faz adentrar em um hall de novos caminhos.
Cada instante em que somos provocados, reagimos de forma diferente, com o tempo aprendemos que as máscaras que usávamos quando imaturo éramos, apenas demonstravam nossas fraquezas e nossos medos diante dos outros, diante de nós mesmos.
Assunto interessante esse, palavra tão expressiva, máscaras, quem nunca usou uma? Quem nunca se escondeu por trás de uma? Quem nunca se apossou de uma para fugir ou fingir algo?
Máscaras, tão simples! Máscaras tão alvissareiras!
Ao nascermos somos puros e ao passo que convivemos com as pessoas, aprendemos a usar máscaras e a construir as nossas. Lá na puerícia1 já começamos a usar as que construímos, usamos por medo, por descontentamento, por desejos, para conquistas, usamos esse nosso escudo para praticamente tudo, por trás dela somos seguros e fortes, ao nos despirmos, tornamo-nos patéticos e frágeis.
Há pessoas que com o passar do tempo e com o contínuo uso, até perdem a própria capacidade de entender o mundo como um ambiente natural e real, um lugar em que, a certo modo, hora e recinto, podemos nos mostrar como realmente somos e até temos o dever de sermos nós mesmos de verdade, a mentira, o esconder-se são coisas que não se podem ser feitas sempre.
1 Puerícia – fase compreendida entre a infância e a adolescência.
Já parou para pensar o quanto nós usamos máscaras? O quanto nos mascaramos para fingirmos o que sentimos? Pois bem, adentre em tuas recordações e relembre as dores que passaste, aquelas que te fizeste soltar aljôfares tão quentes e ígneos como brasas revestidas de ácido letárgico e fogo perene. Querias tu deixar que o mundo a teu redor soubesse de tuas dores? Deixaste os teus inimigos ver tuas lágrimas? Creio eu que não. Tenho certeza que pintaste em teu rosto um belo sorriso, malfeito em verdade, mas capaz de disfarçar o que deveras sentias.
Foi uma máscara que usaste, foi um artifício que sacaste de teu íntimo para esconder tuas reais dores e confundir as pessoas que tu julgaste algozes ou inimigos. Fazes isso também com teus amigos? Costuma fazê-los de tolo e de todo fingir o que sentes? Sabe, se tu, mortal, escondes as tuas dores de teus amigos e a eles não conta um pouco de tuas dores, não divide o fardo que levas, certamente meu caro, duas coisas podem ser pensadas a teu respeito, ou tu não aprendeste a ser amigo ou amigo algum apreendeste. O ser que desconfia dos outros que julga e diz em voz alta ter e ser amigo, em verdade não aprendeu sequer o significado da palavra amizade, que dirá empregá-la ou ter um consigo.
Amigos são tesouros que conquistamos ou que ganhamos, são seres que de tão bons e angelicais tornam-se parte de nossas vidas e em razão que semelhante não há, conquista-nos com apenas um sorriso e nos ganha com apenas um olhar. Esses seres que formados do pó assim como nós são, levam em si uma estranha faculdade e um raro poder de nos tornar feliz mesmo com a verdade, eles, têm o poder de nos compreender e um legado mais importante do que a própria existência.
Um dia tenho certeza que algum ser, desse que tu costuma chamar de amigo, vai se afastar de ti e um vazio perpétuo tomará conta de teu corpo, tenho certeza que perguntas das mais diversas surgirão, a fim de tentar entender o porquê de ter surgido um distanciamento tão grande entre o que era tão unido até anteriormente, aconselho-te a fazer o seguinte, não procure as razões pela qual a pessoa te deixou, mas reflita sobre o que você fez para que uma parede de tristeza fosse construída entre os dois. É comum colocarmos o problema sobre os outros, mas poucos são os que amigos tornam-se a ponto de tentar entender os motivos de certos afastamentos.
Há, pois, meu caro leitor, pessoas que dizem vasculhar tudo a procura de encontrar razões para tudo e, nunca as encontram. Isso decorre de esses seres estarem presos a máscaras que os tornam protegidos e com medo de dar um passo fora da capa que o protege. Mas como nos livrar de tais máscaras? Simples não é, pois terás que aprender a conviver contigo mesmo, a tentar te entender, digo-te que é uma viagem cheia de fantasmas e fantasias, dentro há mais medo do que fora de ti.
Os fracos que, mesmo depois de ter conhecido um pouco de si próprio e de ter estado cara a cara com um medo subjetivo, aqueles que ainda continuam a usar máscaras, são incapazes, enquanto não aprender e evoluir, de entender coisas que existam por fora do campo de visão de uma maneira que não seja restrita e monovisionária.
Foge de ti mesmo e não encontrarás nada além de teu próprio medo, ele te perseguirá e te encontrará em cada novo conto que esconder-te, mesmo as tuas máscaras e teus personagens serão monstros criados por tua essência corrupta e fraca, prontos para te devorar, estraçalhar-te enquanto tu não conseguir entender-te.
Quero te fazer uma pergunta caro leitor e creio que não hesitará muito em responder, será quase que involuntário a tua análise: em algum momento de tua existência já pensou está sendo incompreendido? Certamente em algum momento de tua vida fizeste coisas que nem o teu mais próximo tenha entendido, teria sido uma máscara? Em verdade, não, seria uma se dissessem ter entendido sem entender, mas pulemos essa parte. Se não te empertigar quero te interpelar novamente: Como te sentiste em ser chamado de louco? Pensa um pouco.
Em alguns momentos há pessoas que são tão insistentes com certas ideias que quase nos faz acreditar no que pensam a nosso respeito, elas têm tal poder sobre nós que nos custa pensar o contrário. Bem, algo de importante deve ser lembrado, quando tu tens uma meta a seguir não deve sucumbir diante de opiniões alheias a teu respeito e, de forma alguma, deves deixar de ouvi-las, pois quem está por fora do cerco consegue enxergar muito mais além do que nós mesmos, elas percebem as coisas que estão fora de nossas máscaras, pois de uma hora para outra, no calor do momento, deixamos cair o pano e mostramos quem realmente somos.
Certa feita ouvi uma expressão que senti ser desprezível e instigante ao mesmo tempo, disseram-me que eu sou em um dado momento de um jeito e depois, de outro. Vou explicar o porquê desse meu sentir dual.
Pois bem, quem de vocês consegue ser o mesmo a vida inteira? Quem de vocês nunca mudou de ideia ou criou uma nova opinião a respeito de algo? Para ser de todo convicto é preciso testes e aprendizagem, busca, pesquisa e reflexões, ter certeza de um caminho é algo maior do que um desejo.
Heráclito de Éfeso dizia que tudo flui, nada permanece parado, tudo está em movimento e por que nós humanos deveríamos ser inertes se fazemos parte do universo em constante movimento?
O motivo de eu ter visto esse comentário como desprezível foi o seguinte: já que somos seres que buscamos o esclarecimento, somos inteligentes por natureza e sábios por prática e evolução, por que muitos de nós só conseguem enxergar defeitos alheios e se esquecem de que vivem também em função do aprender? É muito mais fácil apontar erros alheios e observar as coisas por apenas um ângulo subjetivo do que perceber-se culpado de muitos dos acontecimentos que os circunda. Assim como é preciso aprender a viver, é preciso aprender a rever as coisas, respeito, reflexão e convicção são bases que devem surgir através de uma visão mais esclarecida, mais dinâmica.
Por outro lado, percebi o comentário como instigante, pois me leva a refletir a cerca de meus passos enquanto sujeito agente. Se sou um e depois outro isso mostra que ou sou indeciso ou estou em constante busca, assumir-se errado e ter a coragem de mudar de opinião não é coisa fácil, para aqueles que decoram respostas sim o é, mas para aqueles que fazem de sua própria vida um verbo e depois ação, eis a grande diferença.
Prefiro ser chamado de insano, a lucidamente ser chamado de normal por fazer o que todos ditam o que eu deveria fazer. Dar um passo atrás não é recuar para entregar-se, é ser sábio o suficiente para olhar os passos que deu anteriormente.
Pense, reflita e nunca culpe alguém sem antes se olhar no espelho sem sua própria máscara.
Valteones Rios, 17/01/11.