Desabafo
Homo lúpus homini est.
Hoje parei para pensar a respeito de como se é difícil viver e como é desagradável continuar tentando viver nesse planeta. É louvável e até surpreendente como muitos de nós aprendem a mentir para si próprios a ponto de dizer para o mundo que estão felizes e que estão bem. Insensatez cruel que chega a tal ponto de perder a própria identidade e desfigura a própria vontade em momentos tão repulsivos. Muitos de nós resistem passar por tantas dores e aprovações, tanto sofrimento, tristezas, é tanto tudo que nem sei como suportamos ficar dentro de nossos corpos. Tudo que amamos parece nos apunhalar pelas costas e até nos deixa muito mais tristes, é um fica assim não, é um vai melhorar... Poxa, será que essas pessoas não entendem que precisamos é de diminuir a tormenta que há dentro de nós? Precisamos matar a dor que existe crescendo e se propagando, a raiva, a angústia a tristeza. Nossa! É tanto tudo que chega a ser insuportável permanecemos lúcidos.
Com o passar do tempo o mal tende a ficar cada vez maior e um vazio incomensurável apossa-se de nosso peito, acerca-se de nossas vidas e parece consumir pouco a pouco nossa alma, dilacerada e tão frágil.
Vários caminhos se mostram e direções distorcidas são apresentadas a nosso mundo, como escape, como resolução. Alguns tomam as decisões ilícitas e se embrenham em um mundo em que a tranquilidade e a calmaria dão poder de fuga e liberdade para poder simplesmente fugir e se encontrar em um poderio supra-humano. Esse mundo onde os narcóticos ilícitos são os portais gigantescos e psicodélicos, os quais dão entrada para esse universo desconhecido e tão encantador, faz com que os que provam nunca mais tenham vontade de querer voltar ao mundo real, ao mundo desagradável e desprezível, mas, nada dura para sempre e como num passe de mágica desgraçada e repugnante, tudo volta a ser o que fora antes, tudo faz com que aqueles que estavam bem em seu novo mundo possam voltar para a terra que suja os pés e os faz perceber os quão ínfimos e às vezes insignificantes são.
Outros conseguem entrar em outros caminhos, imensos jardins com as mais belas paisagens e os mais belos espécimes, mas ali não há nenhum outro ser humano além de si próprio, é um mundo gigantesco chamado “solidão”, nesse lugar muitos se perdem e ficam escondidos com a cabeça entre os joelhos com medo ou com tanta tristeza que sequer conseguem olhar toda a beleza que ali está, sendo mostrada, presenteada, é uma solidão na imensidão de um mundo gigante, por mais que passem pessoas, que elas te notem ali com pena ou tristeza nos olhos, nenhuma é interessante ou importante, até que se percebe que a solidão tomou conta do bem mais precioso que temos, a nossa alma, daí por diante a solidão passa a ser uma droga, um vício tão poderoso que não existe mais um ser dentro de um corpo, dentro de um jardim que era habitado por uma alma alegre e tranquila, agora só existem olhos distantes, corpo presente e lá dentro, no fundo do jardim um ser que está sentado todo encolhido buscando apenas ser entendido e ser amado. Todos os sorrisos que saem forçadamente da boca, todo olhar lançado ao mundo são vazios e fúnebres.
Chega um momento em que não se pode mais ver beleza no mundo, nem sequer o mundo é mais visto, começam as repreensões, pois há aqueles que não conseguem entender o que se passa dentro de um ser que não parece mais viver sobre a terra, somos taxados de loucos, bobos, viciados, incompetentes e das piores anátemas imagináveis. Mas, pensemos um pouco, quem é realmente louco, aqueles que admitem a loucura que tem ou aqueles que fingem ter sanidade apenas para estar no mundo onde a loucura reina? Os loucos são seres que não escondem o que sentem, enquanto os “lúcidos” escondem o que sentem e pensam, a fim de não serem repreendidos pelo resto dos dominadores.
E os bobos? Quem realmente é bobo, aqueles que dizem o que sentem? Aqueles que se calam quando estão prestes a explodir e agem como idiotas para mostrar para si próprios que podem tentar mudar, ou são aqueles que riem do riso dos outros, apenas para não sair do “grupo” daqueles que são considerados os “certinhos”?
Já parou para pensar sobre os viciados? As pessoas deturparam muito a palavra hoje em dia, vamos dar uma olhadinha nela?
Viciado adj. (viciar) (do latim vitio, -are)
1. Que tem vício ou defeito.
2. Corrupto, impuro.
3. Falsificado.
Trazemos sempre à tona quando falamos de viciados, a imagem de algum usuário de narcótico ou bebida, algo ilícito, psicótico que transforma ou transfigura o ser que usa, mas esquecemos de que a palavra VICIADO possui outros significados e nesses outros, muitas pessoas também se enquadram como tal. Quem é que não tem defeito ou algum vício? Leitura, sexo, jogo, bebidas, drogas, computador, música... Possui algum (s) desse (s)? Quantas vezes em nossas vidas não nos corrompemos, não negamos a nós mesmos por causa de algo ou alguém? Muitas pessoas deixam de lado a própria vontade para fazer algo que o leve a uma satisfação maior. Jovens que entram com o corpo na religião apenas para “pegar” uma jovem, ou vice e versa e vários outros acontecimentos em que negamos o próprio amor que temos, os próprios sentimentos que temos para não sermos chamados dos mais pavorosos nomes.
Já parou para perceber como é difícil dizer uma simples palavra, como NÃO, SIM, OBRIGADO? O quanto é mortal e secular às vezes dizer um simples EU TE AMO?
Muitas pessoas se corrompem por causa do dinheiro e negam a própria condição de humano, vendem o corpo para consegui-lo, para vestir marcas, beber marcas, consumir marcas ou apenas para se enquadrar em certos grupos que idealizam a luxúria e o consumo como entidades acima da própria dignidade.
Há seres que se corrompem de tal forma a dizer que preferem o dinheiro a amigos, esses viciados em dinheiro, em bens materiais (creio eu) que não sabem da existência de um momento chamado futuro, algo muito maior do que nossas expectativas, um período de tempo tão poderoso e surpreendente que nos assombra com a imprevisibilidade e capacidade de mutação, ou o sabem e temem tanto que tentam esquecer se desgraçando no momento presente.
Vivemos em um período em que a falsidade e a mentira são poderosíssimas e capazes de revolucionar a nossa capacidade e vontade de enxergar a verdade. Pessoas apossam-se de tal forma e com tal poder que conseguem o que querem simplesmente por fazer o que muitos esquecem de que são capazes de fazer, pensar e refletir, muitos de nós estamos tão fossilizados e acostumados a receber ordens, a estar mecanicamente fazendo coisas que os outros fazem (copiadores), que até esquecem-se de viver em função da própria vontade, seres sem identidade, limitados e totalmente catatônicos, desprezíveis.
Ainda pensas como antes concernente aos viciados? Tenho certeza que ao refletir durante essa viagem que acabaste de fazer, tenha mentalmente identificado vários viciados e até se enquadrado nesse hall.
Sabe de algo que deves sempre ter cuidado para não cometer? Pois bem, dir-te-ei, nunca decepcione as pessoas que te amam, jamais faça sofrer as pessoas de que gosta, “trocar” uma pessoa que já conheces por uma aventura é sinônimo de “burrice”, aconselho-te sempre a ouvir o que teus amigos te dizem e a prestar atenção no que teus inimigos te fazem, depois tu terás três opções: primeira – tu podes aprender com o que te fazem e mudar com o que tu ouves; segunda – não dar ouvidos e renegar àqueles que querem teu bem, continuando da mesma forma ou pior do que antes e terceira – fingir que nunca ouviu nada e continuar vivendo dia após dia uma mentira maior do que outra. Advirto-te de que tuas escolhas agora serão tuas companheiras mais tarde. Está em tuas mãos crescer, dirimir ou se esconder de teus próprios olhos.
Dedicado a Maurízio.
Valteones Rios, 29/12/10
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