sábado, 5 de fevereiro de 2011

A canção do verdadeiro amor




O mundo às vezes nos prega peças, traz- nos obstáculos difíceis de serem superados, nos mostra problemas sem aparente solução.
Vivemos um grande dilema, o medo de amar e de não ser amado, o medo de errar, de confiar demais, de investir em algo que traga choro, lamento, tristezas e murmúrios. Vivemos em função de conseguirmos um rumo certo para nossas vidas, uma razão para continuarmos vivendo.
Quando nascemos, já temos um caminho trilhado, demarcado, os nossos passos estão marcados no livro da vida.
Cancioneiros do tempo e dos sentimentos, somos uma melodia sem fim, sem ritmo, sem letra, sabemos apenas que existimos e que há um propósito, um porquê de existirmos.
Um dia qualquer, então, descobrimos que nascemos para viver e que vivemos para amar. Estamos imersos em uma grande massa, um grande poder nos limita a esquecer o passado e revive-lo ao mesmo tempo. Descobrimos então, que já estamos grandes, que ainda não vivemos nada, estamos engatilhando para um caminho sem volta, mas que há algum dia e em algum lugar, uma saída.
Começamos a nos reconhecer como humanos, como gente que sonha e que erra , que aprende, ensina e espera e acima de tudo, que tem medo de tudo. Medo de sofrer, de penar, da solidão, do silêncio, do vazio, do mundo, da gente.
Um dia somos apresentados ao amor, nos conhecemos e começamos a nos descobrir e a desvendar os mistérios que existe entre nós dois. Amamos primeiro em silêncio, choramos, sonhamos, imaginamos coisas, criamos cenas, situações e de tudo lembramos e do algo fazemos grandes coisas, tiramos respostas do silêncio, enlouquecemos com as sombras, nos saciamos com a imagem da pessoa amada, e das migalhas da felicidade alheia, criamos a nossa própria.
Não temos coragem de falarmos para o nosso até então imaginário amor, o tanto que amamos, então nutrimos unicamente um sentimento uno e verdadeiro, singular.
Queremos ter coragem de chegar até aquele ser recheado das mais perfeitas qualidades e despejar tudo o que sentimos, mas a voz engasga, as pernas tremem, o medo da rejeição nos apossa e mil cenas, das mais perversas, começam a ser passadas na frente de nossos olhos, começamos a praguejar de frio, a sentir calor, a querer chorar, a querer fugir, milhões de sentimentos são liberados, mas nada consegue ser proferido por nós, em segundos todas essas sensações acontecem, mas não conseguimos falar sobre o sentimento que habita nosso peito.
Passamos a ser felizes de acordo com o meio, com o sentimento alheio, se enxergamos hoje a pessoa e ela nos diz um simples “OI” e se percebemos sua felicidade, ficamos estonteantes e também ficamos felizes, mas se não a vemos ou se vemos e ela não fala conosco e aparenta tristeza, este momento se eterniza e passamos agora por uma tristeza imensa, sentimos um vazio, algo inexplicável, sofremos calados, pois ninguém, nem o melhor de nossos amigos nos entenderia.
Vamos então para casa e lá nos demolimos em palavras e nos acabamos em lágrimas, pensamos no que poderíamos ter feito, no que poderíamos agora estar sentindo, algo diferente.
Um dia, tomamos coragem e por carta ou conversa, tentamos novamente fazer aquilo que não conseguimos, aquilo que passamos horas e horas maquinando em nossas cabeças e escrevendo nas extensas e dolorosas paredes de nossos sentimentos. Começamos a falar e um turbilhão de sentimentos se apossa novamente de nós, mas agora apesar de tudo, não queremos mais sofrer calados e amar sozinhos, a voz treme, o sangue circula de forma a parecer paralisado em nossas veias, mas abundante e constante. Soltamos pouco a pouco as palavras, que parecem mais pedras imensas do que simples função expressiva de nosso corpo começam a sair, temos nesse exato momento, vontades, desejos malucos, sentimos vontade de pular sobre esta pessoa e abraçá-la, beijá-la, de encher de carícias, de mostrar que também amamos e demonstrar o que sentimos, mas respiramos fundo, sorvemos o ar puro e soltamos o ar viciado, as palavras continuam constantes, mas em pausas seculares, a pessoa imóvel, começa a falar, uma voz linda, perfeita, mas como por impulso dizemos:
- por favor, deixa-me falar, deixa-me continuar, depois você fala, agora estou desabafando, estou engasgado a uma eternidade com isso e preciso falar. A pessoa entende e torna-se todo ouvidos.
Depois de tudo ocorrido, em questão de segundos eternos, proferimos, “eu gosto de você, te amo há muito tempo calado e não mais consigo guardar isso”, a pessoa como por ironia solta um sorriso e após um curto espaço de tempo diz:
- “desculpe, sei que seus sentimentos são verdadeiros, mas infelizmente não posso compartilhá-los”, aquele INFELIZMENTE bate em nós como uma tonelada e a resposta cai como uma bomba, nós ali abrindo o coração e esta pessoa responde dessa forma.
Como que por instinto ou impulso, sei lá, falamos:
- entendo, eu já esperava por isso, mas precisava desabafar.
As lágrimas veem, mas as prendemos, guardamo-las para mais tarde. Trocamos de assunto e os olhos de cor, começam a ficar avermelhados, o sol, o assunto, o vento, o chão, o mundo, tudo nos incomoda, saímos então daquele recinto e deixamos a conversa para outra hora, inventamos uma desculpa e nos retiramos do local.
O mundo parece parar.
Vamos para casa e no caminho as lágrimas teimosas, compassadamente caem, o alivio é grande, mas a dor da resposta, que já sabíamos de antemão ser aquela, é maior, é do tamanho do mundo, parece ter proporções superiores ao tempo e ao universo juntos.
Chegamos finalmente em casa, pareceu uma eternidade, os olhos vermelhos, molhados, todos no caminho perceberam, mas o que importa? Ninguém me compreende mesmo!
O mundo parece parar, o corpo não responde mais.
Já que não podemos ter quem queremos, não podemos amar claramente para quem nosso coração palpita, então sofreremos calados, ficaremos estacionados em um único sentimento, viveremos em função dele, só para ele, apenas para ele.
Mas o mundo não sabe disso, morremos por dentro e ninguém se deu conta, enquanto este sentimento existir, enquanto pudermos viver das migalhas da felicidade desta pessoa, estaremos vivos, quando a distância ou a morte nos separar ou nos privar de encontros incasuais, o tudo se tornará em nada, não teremos mais nenhuma razão para vivermos e estagnaremos neste segundo, o outro não mais existirá.
O mundo não mais importa, o vazio apossou-se de nós, e a velha canção de um amor verdadeiro não correspondido, marca o fim de alguém e de uma grande história.

Valteones Rios
01/05/2007

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